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sábado, 24 de janeiro de 2015

6 DESCOBERTAS QUE DESAFIAM A FÍSICA


Velocidades maiores do que a da luz? Matéria desaparecendo no ar? Partículas que se comportam de forma diferente quando observadas? Isso não é coisa de ficção científica – tudo isso acontece bem aqui, em nosso Universo. Saiba quais são os fenômenos que a ciência ainda não consegue explicar:

1. O Sol pode emitir ondas mais quentes que ele mesmo
De acordo com as leis da termodinâmica, o calor viaja sempre do corpo mais quente para o corpo mais frio. É isso que te faz ficar pertinho do fogão aproveitando o calor em dias frios. É uma lei universal. Ou quase. Ao que tudo indica, o Sol consegue emitir ondas de calor mais quentes do que ele mesmo.
A superfície da estrela tem, em média, 5500° Celsius de temperatura. Já a camada que fica a centenas de quilômetros do Sol, conhecida como “corona”, tem uma temperatura média de um milhão de graus Celsius. Segundo a física, a fonte de calor (o Sol) deveria ser mais quente do que sua emissão. Até agora, este é o único caso do fenômeno conhecido no Universo.
2. A gravidade não faz tanto sentido assim
A gravidade está envolvida em tudo o que fazemos – afinal é ela que nos mantém presos na Terra. Mas e se a lei da gravidade não fosse uma lei? E se ela não fizer sentido? Pois saiba que em menor escala, ela não faz sentido algum. Basta esfregar o tubo de uma caneta do tipo “Bic” em seus cabelos e passa-la por cima de uma pilha de pedaços de papel. O papel é instantaneamente atraído pela eletricidade estática da caneta e gruda nela, contrariando as leis da física.
Esse fenômeno é chamado de “problema da hierarquia de Higgs”. Quando pequenas partículas são analisadas, a gravidade torna-se muito fraca – ela segue as leis de Newton apenas em objetos maiores. Isso significa que, quanto menor for a escala do objeto analisado, maiores são as possibilidades da gravidade desaparecer completamente. Ou seja: agradeça por estarmos em um planeta grande, que gera força gravitacional suficiente para nos manter no chão (e por termos massa suficiente para “corresponder” a essa força).
3. Naves espaciais aceleram sem razão aparente
Imagine que você está brincando em uma cadeira de balanço. Você impulsiona seu corpo até atingir a velocidade desejada e, quando atinge seu limite, espera o brinquedo desacelerar para começar a se impulsionar novamente. Agora imagine que, ao parar de tocar os pés no chão, você acelera em vez de parar, voando cada vez mais alto.
Se você lembrar bem das aulas de física, sabe que a lei da conservação de energia diz que esse tipo de situação é impossível. A não ser que você empurre mais o balanço com seus pés, você não irá acelerar, certo? Nem sempre.
Na década de 1980, as naves Pioneer 10 e Pioneer 11, da Nasa, passaram a acelerar depois de uma enorme distância da Terra, em vez de simplesmente terem sua velocidade reduzida. Desde então, cientistas estão tentando descobrir o que aconteceu com as Pioneers e com a nave NEAR e com a sonda Galileo, que passaram pela mesma situação.
4. A lei da conservação de energia não funciona o tempo todo
Se você rasgar uma folha de papel nos menores pedaços que conseguir, terá a mesma quantidade de papel de sempre, só que em um formato diferente, correto? E se o papel simplesmente desaparecesse enquanto você o rasga? Se você é um bom aluno de física sabe que isso não pode acontecer porque nenhum tipo de matéria consegue ser completamente aniquilado – da mesma forma que não conseguimos criar alguma coisa do nada.
Agora suponha que a Terra seja consumida por um buraco negro. A massa dele aumenta, da mesma forma que a sua massa aumenta após as refeições. Afinal, tudo o que você comeu ainda está lá dentro. Só que, algumas vezes, os buracos negros desaparecem completamente – levando tudo o que engoliram junto com eles.
Segundo a física, ao desaparecer eles deveriam emitir uma onda de radiação proporcional a tudo o que consumiram. Mas, de acordo com Stephen Hawking, tudo o que eles fazem é lançar ondas aleatórias de energia. De forma simples: se algum dia a Terra for realmente engolida por um Buraco Negro, não só o planeta deixará de existir, mas também qualquer sinal de que um dia ele existiu.
5. Partículas se comportam de forma diferente só por que alguém está observando
Lembra daquele amigo que parece até outra pessoa quando está conversando com um grupo de estranhos? Pois existem partículas que se comportam da mesma forma. Durante um dia todo, cientistas pesquisaram o urânio. Sabe-se que esse elemento, quando está instável, passa por um processo de enfraquecimento radioativo depois de certo tempo. E quando os cientistas não estavam olhando, o urânio fazia exatamente o que era esperado dele – enfraquecia.
Mas ao olhar diretamente para o material, os pesquisadores perceberam que havia partículas que nunca enfraqueciam. Ou seja, você pode parar o tempo para o urânio simplesmente olhando para ele. O problema é que, em nossa vida comum, olhar para um pacote de leite para impedir que ele estrague não faz sentido nenhum.
6. A Teoria da Relatividade de Einstein pode estar errada
Segundo Albert Einstein, o limite da velocidade de tudo o que existe em nosso universo é 299,792,458 metros por segundo – a conhecida velocidade da luz. É nessa regra que se baseia a teoria da relatividade do físico que, desde os anos 1940, quando foi lançada, é aceita pela comunidade científica.
Foi em 2011, quando cientistas do CERN (Organização Européia de Pesquisa Nuclear, localizado na Suíça) dispararam um raio de partículas por 730 km, que a veracidade da teoria foi questionada. O problema é que o raio chegou em seu destino, na Itália, 60 nano segundos antes do que era esperado, o que mostra que o disparo superou a velocidade da luz.
A comunidade científica ficou estarrecida e o teste foi refeito várias vezes – todos os experimentos apresentaram o mesmo resultado: as partículas viajaram mais rápido do que a luz. Isso quer dizer que a viagem em velocidade de dobra de Star Trek é possível, mas, por enquanto, apenas para neutrinos. E, se toda a teoria da relatividade foi derrubada, até a viagem através do tempo será possível.
Fontes: Revista Galileu e Cracked (versões online)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Os primórdios dos debates de Einstein com Niels Bohr

Foto © Museum Boerhaave, NL
Por George Musser 
Os pensamentos de Albert Einstein permanecem relevantes para físicos que tentam entender a mecânica quântica. “Esse homem foi quem percebeu mais rápida e profundamente os problemas que nos afligem atualmente”, contou-me um físico quântico. O último volume de “Collected Papers of Albert Einstein” [Textos Selecionados de Albert Einstein, em tradução aproximada] que contém as publicações, rascunhos, cartas e rabiscos de Einstein, de janeiro de 1922 a março de 1923, mostra que suas profundas preocupações com o quantum antecederam seus famosos duelos com Niels Bohr e tiveram um importante papel na formação da nova teoria. Muitos desses textos ainda não tinham sido publicados. Convidei Tilman Sauer do Caltech, editor sênior doEinstein Papers Project, para descrever algumas das novidades que apareceram. – George Musser

Albert Einstein e Niels Bohr tiveram um famoso embate no final da década de 20 e início da década de 30 sobre a interpretação da mecânica quântica e o fenômeno que atualmente chamamos de emaranhamento quântico.

Einstein, porém, já estava investigando a mecânica quântica há muitos anos, tanto teórica quanto experimentalmente. Propôs não apenas experimentos mentais, mas também experimentos reais que, quando conduzidos, foram cruciais para moldar a compreensão de físicos sobre a nova teoria. Detalhes das ideias de Einstein e novas observações sobre seu envolvimento com a teoria quântica vieram à luz durante o curso de nosso trabalho com seus textos.

Bohr havia postulado que elétrons se movem ao redor de núcleos atômicos apenas em órbitas estacionárias, e que só liberam radiação quando vão de uma dessas órbitas para uma de energia mais baixa. Equalizando a energia da luz emitida com a diferença energética das duas órbitas, ele conseguiu explicar o espectro do hidrogênio. Foi um avanço espetacular. Mas apesar de seu sucesso empírico, os postulados de Bohr desafiavam princípios básicos da eletrodinâmica clássica. Todos ficaram confusos. Bohr abrira a porta para um mundo de mistério e surpresa.

Einstein também foi desafiado e provocado pela ousada teoria de Bohr. Ele mesmo um dos fundadores da teoria quântica inicial e autor da hipótese do quantum de luz, Einstein sentiu que havia um problema que não poderia ser reconciliado com conceitos clássicos e que imperativamente exigia novas ideias e abordagens. 

No final de 1921, Einstein divisou o que acreditava ser um experimento crucial para determinar a natureza do processo de emissão de luz. Quando elétrons se movem de uma órbita para a seguinte, será que a luz é emitida por átomos ejetados instantaneamente, como um quantum, ou gradualmente, como uma onda contínua?

Ele propôs estudar o processo usando os chamados raios canais, que são partículas aceleradas por uma voltagem em um tubo de vidro; elas fluem por poros (“canais”) no cátodo do tubo. Depois de passar através dos cátodos, elas podem ou não se neutralizar, mas em qualquer caso nós podemos emitir luz (pelo mecanismo de Bohr, de elétrons saltando para uma órbita de energia mais baixa). A luz sofre uma mudança de frequência devido ao efeito Doppler, indicando que as partículas emissoras de luz estão se movendo rapidamente. 

Einstein previu que se alguém enviar luz produzida dessa maneira através de um meio dispersivo, as frentes de ondas deveriam ser defletidas se o processo de emissão fosse clássico.

Quando Hans Geiger e Walther Bothe conduziram o experimento, usando gás de dissulfeto de carbono como meio, não viram essa deflexão. Einstein tomou isso como evidência de que a luz é emitida como partícula em vez de onda.

O novo volume de Einstein’s Collected Papers deixa claro que Einstein havia cometido um erro. Como lhe apontou seu amigo Paul Ehrenfest (mostrado na foto acima com seu filho e Einstein), sua análise era falha. Ele não havia distinguido corretamente entre velocidade de grupo e velocidade de fase. Quando essa correção era aplicada, nenhuma das duas alternativas teóricas resultava em uma deflexão.

Recolhendo seu manuscrito original, Einstein graciosamente publicou uma análise de propagação de ondas clássicas em meios dispersivos, para que outros não caíssem na mesma armadilha.

Einstein, no entanto, não desistiu. Ele divisou vários experimentos projetados para esclarecer sobre a escolha entre conceitos quânticos e clássicos. Algumas ideias tinham vida curta, outras estavam sendo postas a prova.

Ehrenfest ficou fascinado. Ele sonhavaem trancar Einsteine Bohr em uma sala para que os dois brigassem sobre o assunto, assim antecipando os famosos debates entre eles sobre a interpretação de Copenhague alguns anos mais tarde, na conferência de Solvay de 1927.

De fato, no início da década de 20, Einstein examinou a maioria dos problemas sob a perspectiva quântica. Poucos fizeram investigações tão profundas quanto ele.

Tome a supercondutividade, por exemplo. A misteriosa perda completa e repentina de resistividade elétrica a temperaturas de hélio líquido só foi observada pela primeira vez 10 anos antes, em Leyden, para o caso do mercúrio, e até 1923 era apenas em Leyden que Kamerlingh Onnes tinha instalações adequadas para produzir o fenômeno.

Einstein levantou a hipótese de que corrente de carga em supercondutores era produzida por elétrons se movendo em correntes de órbitas de Bohr sem emitir radiação. Em metais supercondutores, átomos ficariam alinhados de maneira que suas órbitas se osculassem tangencialmente, assim permitindo que elétrons passassem suavemente da órbita de um átomo para a seguinte.

Se isso fosse verdade, deduziu ele, as interfaces entre metais diferentes não deveriam ser supercondutoras. Era uma ideia inteligente. Mas quando Onnes executou o experimento e encontrou supercondutividade em um anel consistindo de pedaços alternados de chumbo e estanho, Einstein suspirou: “E mais um vislumbre de esperança para a compreensão é abandonado”.

Em Frankfurt, ao mesmo tempo, Otto Stern e Walther Gerlach estavam enviando átomos de prata através de um campo magnético forte, não-homogêneo, para verificar se carregavam momento magnético e, se fosse o caso, se esse momento era quantizado no espaço, como postulava a teoria quântica.

Eles descobriram que o feixe de átomos de prata se dividia em dois raios, correspondendo a duas possibilidades diferentes de alinhar seu momento magnético no campo magnético. Quando Einstein e Ehrenfest discutiram o experimento durante uma das visitas de Einstein a Leyden, eles imediatamente perceberam que o experimento Stern-Gerlach não podia ser explicado classicamente.

Fizeram alguns cálculos estimando quanto tempo levaria para um átomo de prata se alinhar em um campo magnético por emissão clássica de radiação por rotação Larmor. Descobriram que isso levaria 100 anos, se comparado aos poucos microssegundos que os átomos tinham à disposição durante seu tempo de voo.

Confrontados com o primeiro exemplo de um processo genuíno de medição quântica, Einstein e Ehrenfest imediatamente perceberam o problema fundamental do que mais tarde se tornou o exemplo clássico do colapso da função de onda.

Einstein Papers Project visa tornar acessíveis os textos e correspondência de Einstein em uma edição acadêmica cuidadosamente anotada. O projeto editorial se baseia nos Albert Einstein Archives, uma coleção de arquivos de seus textos publicados e não-publicados, e de sua extensa correspondência depositada na Universidade Hebraica de Jerusalém.

Um catálogo da coleção está acessível em uma base de dados com mais de 80 mil registros e muitos fac-símiles. O projeto editorial está organizado cronologicamente. Com o último volume, a série publicada agora cobre a vida e o trabalho de Einstein até seu 44º aniversário. Quem sabe que outras pepitas de sabedoria aparecerão nos próximos volumes?

Acesso ao catálogo: http://www.alberteinstein.info/


Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/os_primordios_dos_debates_de_einstein_com_niels_bohr.html

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Refundação da Física


por Mario Novello
©Martina Vaculikova/ Shutterstock
No século 17 os astrônomos (Ticho Brahe, Kepler, Galileu) realizaram uma mudança profunda na arte de representar racionalmente a Natureza, dando origem a um modo novo de produzir conhecimento científico e fundando a física moderna. Quando observamos o céu, para mais uma vez produzir uma história científica do Universo, estamos seguindo os mesmos caminhos e a mesma tarefa. O papel da cosmologia, hoje, como há quatro séculos, é elaborar a refundação da física, como veremos.

O Universo está em um processo acelerado?

A observação do comportamento irregular de estrelas supernovas levou à hipótese de que o Universo estaria dotado de expansão acelerada. Isso significa que a taxa de crescimento do volume global do espaço estaria aumentando com o tempo (contrariamente ao que se poderia esperar devido ao caráter atrativo da gravitação). Segundo a teoria da relatividade geral isso implicaria a existência de uma fonte de expansão com propriedades pouco convencionais e exigiria a presença de incompreensível pressão altamente negativa. Se essa fosse a interpretação correta dos dados astronômicos, teríamos de aceitar a existência em alguma região cósmica de novas formas de matéria com propriedades inusitadas. Ou então, a simetria que levou os cosmólogos a eleger o modelo geométrico de Friedmann deveria ser alterada. Isso eliminaria a necessidade de examinar inúmeras tentativas recentes e de postular a presença de formas de matéria desconhecidas com características esdrúxulas. 

Qual a origem do Universo?

Desde 1979 conhecemos soluções exatas das equações da relatividade geral que descrevem a geometria do Universo sem singularidade, isto é, como um processo oscilante, que anteriormente à atual fase de expansão passou por uma fase de contração gravitacional. Há até pouco tempo a opção entre uma teoria do universo singular (tipo Big Bang) ou um universo eterno se sustentava apenas por argumentos formais. Mas, ao compararem observações envolvendo a formação de estruturas como galáxias e aglomerados galácticos, os cosmólogos estão no limiar de poder decidir sobre a característica mais fundamental do Universo, correspondendo ao seu tempo de existência, para finalmente responder à questão: o Universo teve começo há uns poucos bilhões de anos ou ele é muito mais antigo, possivelmente eterno? 

As leis da física são universais?

Desde o início da ciência moderna o pensamento científico foi dominado por uma visão rígida, com o pressuposto de que as leis físicas descobertas a partir de experiências realizadas em laboratórios terrestres ou em nossa vizinhança no Sistema Solar eram verdades eternas, sem evolução e válidas em todo o Universo. Embora no primeiro momento essa extrapolação exagerada servisse como uma prática de trabalho adequada, nos últimos anos ela tem sido criticada e dado lugar a um intenso trabalho relacionando os mecanismos de formação das leis físicas com a evolução do Universo (inibindo a visão idealista de que são precisamente essas leis físicas absolutas, acima de qualquer compreensão ulterior, que determinam a evolução cósmica).

As leis da microfísica são universais?

Um bom exemplo de alterações de leis físicas terrestres está relacionado a duas interações fundamentais: o eletro magnetismo e a desintegração da matéria pela interação fraca. O físico inglês P. A. M. Dirac e o brasileiro C. Lattes, entre outros, se perguntaram, talvez de maneira ingênua, se o valor numérico da carga elétrica seria uma constante universal ou variaria com o espaço e o tempo. Esse modo de apresentar uma possível dependência da interação eletromagnética é certamente simplista e está longe de conter toda possibilidade de variação compatível com as demais leis e princípios fundamentais da física. Mas devemos reconhecer que esse foi um primeiro passo capaz de permitir retirar do Olimpo as leis físicas terrestres e a inexorabilidade de serem aplicadas de modo irrestrito em qualquer estágio de evolução do Universo.

 Um modo um pouco menos simplista ocorreu com a questão: os processos de desintegração da matéria seriamuniversais? Ou, dito de outro modo, a força que controla o decaimento da matéria (interação fraca) e que, segundo as observações realizadas em laboratórios terrestres, tem a característica de violar maximalmente a paridade, exibiria essa propriedade em qualquer circunstância em nosso Universo? Seria isso verdade mesmo em situações em que o campo gravitacional (que em princípio não parece desempenhar papel relevante nesse mecanismo de desintegração) exibe curvaturas do espaço- tempo extraordinariamente grandes, de várias ordens de grandeza superiores àquelas onde esses processos de desintegração foram testados?

A grandiosidade da fase atual por que passa a ciência, graças ao olhar moderno para o céu, e em analogia profunda com o que aconteceu na astronomia há 400 anos, estão levando a Cosmologia a produzir uma verdadeira refundação da física.
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Mario Novello doutor em física pela Universidade de Genebra, Suíça, publicou mais de uma centena de artigos científicos sobre cosmologia e gravitação em revistas internacionais. Colaborador frequente de SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL fundou e dirige o Grupo de Cosmologia do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas – CBPF/CNPq e a Escola de Cosmologia e Gravitação do CBPF. É autor de vários livros de divulgação científica.


Fonte: Scientific American Brasil

domingo, 18 de março de 2012

Morre Aziz Ab'Sáber, decano da geografia física no Brasil


Aziz Nacib Ab'Sáber, pesquisador da USP e um dos maiores especialistas em geografia física do país, bem como uma voz ativa nos debates sobre biodiversidade e preservação ambiental, morreu na manhã desta sexta-feira, às 10h20, em São Paulo. Ele tinha 87 anos.

A informação foi dada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), instituição que Ab'Sáber presidiu de 1993 a 1995 e da qual era presidente de honra e conselheiro.
Ab'Sáber morreu em casa. "Ele tomou café, sentou na cama e deu um suspiro. Morreu em seguida, foi fulminante", disse Nídia Nacib Pontuschka, irmã do geógrafo. Ela afirma que a causa da morte ainda não foi identificada, mas suspeita-se que tenha sido um infarto ou um derrame.
A SBPC confirmou que o corpo de Ab'Sáber será velado no Salão Nobre do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Rua do Lago, 717, Cidade Universitária, São Paulo), das 19h às 22h. O velório será reaberto amanhã a partir das 8h e o enterro será às 11h no Cemitério da Paz, no Morumbi.
Ab'Sáber nasceu em São Luís do Paraitinga (SP) em 24 de outubro de 1924. Seu pai era libanês.
Silva Júnior/Folhapress
Foto de arquivo do geógrafo Aziz Ab'Saber, ao receber o troféu Juca Pato como intelectual do ano de 2011
Foto de arquivo do geógrafo Aziz Ab'Saber, ao receber o troféu Juca Pato como intelectual do ano de 2011
Embora já estivesse aposentado, Ab'Sáber continuava publicando livros e sendo um observador arguto das controvérsias políticas envolvendo a questão ambiental.
Envolveu-se, por exemplo, com a discussão do novo Código Florestal, que pode alterar as áreas de preservação obrigatórias em propriedades particulares, nos últimos dois anos.
Segundo a SBPC, o geógrafo criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o país, deixando de lado a importância da diversidade de paisagens naturais no Brasil.
O estudioso também chegou a sugerir a criação de um Código da Biodiversidade para implementar a proteção a espécies da flora e da fauna.
Ab'Sáber deixa cinco filhos, seis netos e um bisneto.
LAUREADO
O site da SBPC traz uma extensa lista dos prêmios recebidos por Ab'Sáber ao longo da carreira. Destacam-se o Prêmio Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005) e em ciências exatas (2007), o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra pela Academia Brasileira de Ciências; e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001), concedido pelas Nações Unidas.
REPERCUSSÃO
Segundo a presidente da SPBC, Helena Bonciani Nader, Ab'Sáber dava atenção especial aos estudantes e jovens pesquisadores.
"Ele era sempre ouvidos e se dedicava a todos, principalmente aos jovens. Conseguia transmitir para os estudantes a importância da ética e da moral como poucos. A gente brinca que ele era um aliciador de jovens para o saber. Perdemos um grande amigo e a ciência perde um batalhador, que sempre lutou por seus valores e pelo o que acreditava ser o melhor para o país."
Luiz Davidovich, membro da diretoria da ABC (Academia Brasileira de Ciências), diz ter recebido a notícia da morte de Ab'Sáber com grande pesar.
"Ele era um vulto da ciência nacional. Deu grandes e importantes contribuições para a geografia. Além disso, teve presenca marcante como cidadão, lutando sempre para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país."
Em nota, Marco Antonio Raupp, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, afirmou que Ab'Sáber já fazia parte da história intelectual brasileira há muitos anos. "Agora ele entra para a eternidade, mas seu legado de centenas de trabalhos continuará a nos guiar pelos caminhos que conheceu como poucos, como os da geografia, da ecologia, da biologia evolutiva, da geologia e da arqueologia."
Ele disse ainda que Aziz era dono de uma lucidez irrequieta e de uma formidável capacidade de lançar ideias muito à frente do senso comum.
"Bom exemplo dessa característica de Aziz Ab'Saber foi seu posicionamento nas recentes discussões do novo Código Florestal, não para repetir clichês ou acentuar antagonismos, mas sim para propor a criação de um Código da Biodiversidade --avanço que um dia o Brasil certamente consolidará."
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também enviou uma nota, por meio de seu instituto, lamentando a morte do geógrafo. Eles estiveram juntos nas Caravanas da Cidadania, viagens que Lula, membros do PT, além de especialistas de diversas áreas, fizeram pelo país nos anos 90.
"Aziz Ab'Saber foi, sem dúvida, um dos maiores geógrafos que o Brasil já teve. Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram fonte de inspiração para todos nós. (...) Sua presença sempre ativa, crítica e opinativa foi fundamental e ajudou a construir muitas das políticas públicas brasileiras. E foi assim que ele se manteve até seus últimos momentos. Aziz deixará muita saudade, mas o conhecimento que ele transmitiu a todos nós continuará, com toda certeza, presente em nossas ações."

Fonte: Folha Uol

P.S.: Tive a honra de assistir a uma palestra do brilhante professor Aziz durante a edição da 47ª reunião anual da SBPC, aqui em São Luís, no já distante ano de 1995. Na ocasião, o ilustre mestre, na condição de presidente de honra da instituição, discorreu a respeito da questão amazônica e sobre meio ambiente, um dos seus assuntos prediletos. À época, apenas iniciava meus estudos em Direito e Filosofia na Universidade, mas, como nunca deixei de ser, estava curioso e sedento em conhecer mais e mais. Por isso, logo que soube, me dirigi ao local em que se apresentaria o saudoso geógrafo, mesmo se tratando de tema aparentemente distante das minhas áreas de estudo. Não me arrependi. Pelo contrário. Foi uma verdadeira aula de conhecimento e simplicidade aquela. 

Aziz Ab'Saber foi Um grande divulgador do conhecimento da ciência, sobretudo da geografia, que sabia como ninguém transmitir aos jovens, com toda sua larga vivência nos assuntos a que se dedicou. Pude ver ali um ser humano admirável, um pensador,  intelectual e mestre inesquecível a quem rendo essa singela homenagem.

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