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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Reflexões sobre o trabalho (por Reinaldo Cafeo)


Por Reinaldo Cafeo
Conceitualmente, o trabalho é inerente ao ser humano. É considerado na visão econômica um dos componentes dos denominados estoques de recursos. Talvez neste contexto esteja a explicação da verdadeira luta de classe que foi estabelecida ao longo do tempo. Depois de anos da discussão da relação capital/trabalho, é chegado o momento de a sociedade avançar em outra direção.

Evidentemente que há patrões e patrões, como há empregados e empregados, mas as organizações de sucesso já praticam outra forma de relação. Primeiramente abandonaram modelos com hierarquia rígida. O presidente general não está mais no topo da pirâmide. O cliente passou a ser o foco principal e o empregado, que passou a ser associado, é quem está no comando da relação com este cliente. Os níveis hierárquicos foram achatados e a parceria em busca de resultados passou a nortear o dia a dia das organizações.

É evidente que são mudanças culturais, de crenças e, se de um lado a legislação trabalhista garante uma série e direitos ao empregado, também oferece instrumentos de controle por parte dos patrões, principalmente no item “dispensa sem justa causa”. Quem está fora do mundo corporativo e ainda opera em organizações públicas ou a elas assemelhadas, com garantias adicionais, como a estabilidade, não consegue enxergar a revolução que vem ocorrendo.

No tocante à legislação trabalhista, é preciso um novo olhar. Um primeiro passo poderia ser a segmentação da força de trabalho. Da mesma maneira que o governo federal tem que estabelecer o valor do salário mínimo, caso contrário o mercado praticaria qualquer valor, e para baixo, um caminho seria tutelar àqueles que não conseguem representação ou que estão situados em determinada faixa de ganho e qualificação. Os demais profissionais deveriam definir sua relação de trabalho com o seu empregador de maneira livre, estabelecendo condições de ingresso, benefícios e condições de saída do emprego. Na prática, não seriam empregados, mas parceiros ou associados, como mencionado, com ganhos a partir da produtividade.

É evidente que há todo um sistema em torno do tema. A indústria das ações trabalhistas, os sindicatos e um cem número de outros interesses são exemplos das resistências à vista, e, cá entre nós, não é uma bandeira popular, portanto, o meio político foge do tema, mas está evidenciado que o custo da mão de obra é alto, com uma equação que não fecha: o trabalhador leva um salário líquido baixo e a empresa paga muito. O Brasil é dual e como tal tem de tudo: de trabalho escravo a semi-escravo, a exploração do trabalho infantil, estabilidade, dispensa sem justa causa e gestores de organizações que operam como se fossem donos dos negócios.

Assim não é tarefa fácil contentar a todos, mas o tempo está apontando que, por comparação com outros países mais avançados, há algo errado na legislação trabalhista brasileira e algo deverá ser feito para preservar o todo em detrimento aos interesses particulares e corporativos. Vale a pena refletir sobre isso.

O autor é economista e articulista do JC
 
Fonte: JCNet

sábado, 10 de novembro de 2012

A new Atlantic alliance


Brazilian companies are heading for Africa, laden with capital and expertise



IN THE sweaty heat of northern Mozambique, Vale, a Brazilian mining giant, is digging up coal at its mine near the village of Moatize. A 400,000-tonne mound sits ready to burn. The mine can churn out 4,000 tonnes an hour but the railways and ports cannot cope. Vale is working to improve a line through Malawi to take the coal for export. OAS Construtora, another Brazilian firm, has signed a deal with the miner to build part of a new port at Nacala, 1,000km (620 miles) to the north-east, to do the same.
The continent is an important part of Vale’s future, enthuses Ricardo Saad, the firm’s Africa boss. He is not alone in his excitement about Brazil’s prospects. Relations with Africa flourished during the presidency of Luiz Inácio Lula da Silva. He travelled there a dozen times and African leaders flocked to Brazil. His zeal was in part ideological: he devoted much of his diplomacy to “south-south” relations—at the cost, critics say, of neglecting more powerful (and richer) trade partners, such as the United States.

Brazilian businesses seem keen. In 2001 Brazil invested $69 billion in Africa. By 2009, the latest figures available, that had swelled to $214 billion. At first Brazilian firms focused their efforts on Lusophone Africa, Angola and Mozambique in particular, capitalising on linguistic and cultural affinity to gain a foothold. Now they are spreading across the continent.Lula stressed his country’s “historic debt” to Africa, a reference to the 3.5m Africans shipped to Brazil as slaves. Outside Nigeria, Brazil has the world’s biggest black population. Dilma Rousseff, Brazil’s current president, is continuing those policies—though with more emphasis on how the relationship benefits Brazil. There are many ways that it can. Africa needs infrastructure and Brazil has lots of construction firms. Africa sits on oil and minerals in abundance; Brazil has the firms to get them out. Its agribusiness giants are also eyeing up Africa. If the continent’s economy continues to grow as it has in recent years, it will produce millions of customers much like Brazil’s new middle class.

So far a few large firms dominate. Vale’s coal mine in Mozambique is its biggest operation outside Brazil. Odebrecht has been building things in Africa since the 1980s. Early on it was involved in construction of the vast Capanda dam in Angola. It erected the country’s first shopping mall in the capital, Luanda. In Ghana, where demand for homes is so fierce that tenants have to pay up to two years’ rent in advance, OAS, a contractor of Camargo Corrêa, a big conglomerate, is putting up social housing.
Andrade Gutierrez, another construction firm, works on everything from ports to housing and sanitation projects in Angola, Algeria, Congo and Guinea. Petrobras, Brazil’s state-owned oil behemoth, is already pumping oil in Angola and Nigeria and is on the hunt for more in Benin, Gabon, Libya, Nigeria and Tanzania. Consumer companies are setting their sights on a growing market, too. O Boticário, a Brazilian cosmetics firm, has been peddling its products in Angola since 2006.
Brazil v China
Since Brazil cannot compete with the likes of China in the scale of its investment, it has to offer something extra: in particular, technical expertise. With similar climates, agriculture has been a fruitful field of collaboration. In 2008 Embrapa, a Brazilian agricultural-research institute, set up an office in Ghana. Through Embrapa, Brazil has provided technical assistance to the cotton industry in Benin, Burkina Faso, Chad and Mali. Brazilian companies that produce soya, sugar cane, corn and cotton were sniffing out investments in Tanzania earlier this year.
Brazilian firms hope that their reputation will ensure that opportunities keep coming. They are keen to distinguish themselves from competitors, especially the Chinese. They do not want to be seen as grabbing everything they can, says Rodrigo da Costa Fonseca, Andrade Gutierrez’s president in Africa. Whereas Chinese firms are lambasted for their working practices, their Brazilian counterparts emphasise that they play by the rules, are good employers and want to build enduring relationships by offering development aid as well as private investment.
In particular, Brazilians stress that in Africa they employ Africans (Chinese firms are often criticised for shipping in their own people). Around 90% of Odebrecht’s employees in Angola are locals, as are 85% of Vale’s employees in Mozambique.
The Brazilians have not managed to avoid all criticism. Vale has come under fire for its resettlement of over 1,000 families to make way for its coal mine. Most have been moved to a brand-new village at Cateme, 40km away from Moatize. Disgruntled villagers say the cost of living has soared because of the added expense of getting to Tete, the provincial capital. The ground is less fertile and water less plentiful at the new location, say inhabitants, and the houses provided by Vale are shoddily built. In January angry villagers blocked a nearby railway line in protest.
Vale says it is dealing with these problems—fixing the houses and putting on a bus into town. The company is paying the price for being first in, says Altiberto Brandão, who runs Vale’s mine at Moatize. Vale has a 35-year concession so it needs to keep locals on its side: “we don’t want 35 years of problems,” Mr Brandão insists.
Brazil is still enjoying its honeymoon in Africa, says Oliver Stuenkel of the Global Public Policy Institute, a think-tank. Still, Brazil should learn from the mistakes of others, he says. With its prominence in mining, there is always a danger that Brazil is seen as a new colonial power. Though its presence is growing, it is still paltry compared with China’s. Unlike China, Brazil does not need Africa’s resources but is more interested in diversifying its markets. There is no construction in Europe—there is nothing left to build there, laughs OAS’s Africa head, Leonardo Calado de Brito. “Africa is the place to be.”

sábado, 18 de agosto de 2012

E SE NÃO HOUVER SAÍDA ALGUMA?




Immanuel Wallerstein especula sobre as raízes da “crise estrutural do capitalismo” – e a dura disputa pelas alternativas

Immanuel Wallerstein - Tradução: Antonio Martins - Outras Palavras

A maior parte dos políticos e dos “especialistas” tem um costume arraigado de prometer tempos melhores à frente, desde que suas políticas sejam adotadas. As dificuldades econômicas globais que vivemos não são exceção, neste quesito. Seja nas discussões sobre o desemprego nos Estados Unidos, os custos alarmantes de financiamento da dívida pública na Europa ou os índices de crescimento subitamente em declínio, na Índia, China e Brasil, expressões de otimismo a médio prazo permanecem na ordem do dia.

Mas e se não houver motivos para elas? De vez em quando, emerge um pouco de honestidade. Em 7/8, Andrew Ross Sorkin publicou um artigo no New York Times em que oferecia “uma explicação mais direta sobre por que os investidores deixaram as bolsas de valores: elas tornaram-se uma aposta perdedora. Há toda uma geração de investidores que nunca ganhou muito”. Três dias depois, James Mackintosh escreveu algo semelhante no Financial Times: os economistas estão começando a admitir que a Grande Recessão atingiu permanentemente o crescimento… Os investidores estão mais pessimistas”. E, ainda mais importante, o New York Times publicou, em 14/8, reportagem sobre o custo crescente de negociações mais rápidas. Em meio ao artigo, podia-se ler: “[Os investidores] estão desconcertados por um mercado que não ofereceu quase retorno algum na última década, devido às bolhas especulativas e à instabilidade da economia global.

Quando se constata que muito poucos concentraram montanhas incríveis de dinheiro, pergunta-se: como o mercado de ações pode ter se tornado “perdedor”? Durante muito tempo, o pensamento básico sobre os investimentos afirmava que, a longo prazo, o ganho com ações, corrigido pela inflação, era alto – em especial, mais alto que o dos papéis do Estado (bônus). Esta era a recompensa pelos riscos derivados da grande volatilidade, a curto e médio prazo, das ações. Os cálculos variam, mas em geral admite-se que, no século passado, o retorno das ações foi bem mais alto que o dos bônus, desde, é claro, que a aplicação fosse mantida.

Não se leva tanto em conta que, no mesmo período de um século, os lucros das ações corresponderam mais ou menos a duas vezes o aumento do PIB – algo que levou alguns analistas a falar num “efeito Ponzi”. Ocorre que os maravilhosos ganhos com ações ocorreram, em grande parte, no período a partir do início dos anos 1970, a era do que é chamado de globalização, neoliberalismo e ou financeirização.

Mas o que ocorreu de fato, neste período? Deveríamos notar, de início, que o período pós-1970 seguiu-se à época de maior crescimento (por larga margem) na produção, produtividade e mais-valia global, na história do economia-mundo capitalista. É por isso que os franceses chamam este período de trente glorieuses – os trinta anos (1943-1973) gloriosos. Em minha linguagem analítica, foi uma fase A do ciclo Kondratieff. Quem possuía ações neste período deu-se, de fato, muito bem. Assim como os empresários em geral, os trabalhadores assalariados e os governos, no que diz respeito às receitas. Parecia que o capitalismo, como sistema-mundo, teria um poderoso impulso, após a Grande Depressão e as destruições maciças da II Guerra Mundial.

Porém, tempos tão bons não duraram para sempre, nem poderiam. Por um motivo: a expansão da economia-mundo baseou-se em alguns quase-monopólios, nas chamadas indústrias-líderes. Duraram até serem solapados por competidores que conseguiram, finalmente, entrar no mercado mundial. Competição mais acirrada reduziu os preços (sua virtude), mas também a lucratividade (seu vício). A economia-mundo mergulhou numa longa estaganção nos trina ou quarenta anos inglórios seguintes (1970s – 2012 e além). Este período foi marcado por endividamento crescente (de quase todo mundo), desemprego global em alta e retirada de muitos investidores (talvez a maior parte) para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Tais papéis são seguros, ou pelo menos mais seguros, mas não muito lucrativos, exceto para um grupo cada vez menor de bancos e hedge funds que manipularam as operações financeiras em todo o mundo – sem produzir valor algum. Isso nos trouxe aonde estamos: um mundo incrivelmente polarizado, com os salários reais muito abaixo de seus picos nos anos 1970 (mas ainda acima de seus pisos, nos 1940) e as receitas estatais significativamente rebaixadas, também. Uma sequência de “crises da dívida” empobreceu uma sequência de zonas do sistema-mundo. Como resultado, o que chamamos de demanda efetiva contraiu-se em toda parte. É ao que Sorkin se referia, quando afirmou que o mercado de ações já não é atrativo, como fonte de lucros para acumular capital.

O núcleo do dilema tem a ver com as contraiços centrais do sistema. O que maximiza os ganhos, a curto prazo, para os produtores mais eficientes (margens de lucro ampliadas), oprime os compradores, a longo prazo. À medida em que mais populações e zonas integram-se completamente à economia-mundo, há cada vez menos margem para “ajustes” ou “renovações” – e cada vez mais escolhas impossíveis para investidores, consumidores e governos.

Lembremos que a taxa de retorno, no século passado, foi o dobro do aumento do PIB. Isso poderia se repetir? É difícil de imaginar – tanto para mim, quanto para a maior parte dos investidores potenciais no mercado. Isso gera as restrições com que nos deparamos todos os dias nos Estados Unidos, Europa e, breve, nas “economias emergentes”. O endividamento é alto demais para se sustentar.

Por isso, temos, por um lado, um apelo político poderoso à “austeridade”. Ela significa, na prática, eliminar direitos (como aposentadorias, qualidade da assistência médica, gastos com educação) e reduzir o papel dos governos na garantia de tais direitos. Porém, se a maioria das pessoas tiver menos, elas gastarão obviamente menos – e quem vende encontrará menos compradores – ou seja, menor demanda efetiva. Portanto, a produção será ainda menos lucrativa (reduzindo os ganhos com ações); e os governos, ainda mais pobres.

É um círculo vicioso e não há saída fácil aceitável. Pode significar que não há saída alguma. É algo que alguns de nós chamamos crise estrutural da economia-mundo capitalista. Produz flutuações caóticas (e selvagens) quando o sistema chega a encruzilhadas, e surgem lutas duríssimas sobre que sistema deveria substituir aquele sob o qual vivemos.

Os políticos e “especialistas” preferem não enfrentar esta realidade e as escolhas que ela impõe. Mesmo um realista, como Sorkin, termina sua análise expressando a esperança que que a economia terá “um impulso”; e a sociedade, “fé a longo prazo”. Se você pensa que será suficiente, posso me oferecer para vender-lhe a Ponte de Brooklin.

Fonte: Página Global

sábado, 7 de abril de 2012

Conhecendo o país: Brasília (DF) - Brasil

Uma cidade a se descobrir, a se conhecer. Diferente das outras, é bem verdade. Mas Brasília é a amplitude dos lugares. É o  ir e vir. Espaços abertos (dimensões de vida e trabalho). Sentimento de estar onde todos estão, todos vão, todos passam, veem, se encontram e ficam.


Um lugar sem igual: a singularidade no coração de um país dentro de muitos outros países. 


Ver, sentir, andar (caminhar sem ter pressa). Brasília é assim: um encanto na vastidão do cerrado. Brasília do Eixo Monumental, do cerrado monumental, dos monumentais poderes, da visão de uma celeste Pietà.


Brasília larga, Brasília linda ao redor do Lago, por sobre o qual impõe-se a vista. E que vista!


Uma imagem, uma cidade. Outrora sonho, hoje concreta. Cidade aberta. Luz que nos toca, calor que acimenta sentimentos vastos, olhares complexos, sol que adentra a retina. Beleza etérea nos traçados, nos lugares. Palácios a céu aberto. Colunas, paredes, trajetos feitos em função de todos. Plano-piloto que manobra sobre a gente, sobre as mentes, corações que pulsam completos quando é dia ou quando a noite cai, mesmo que fria.


Outro plano, outro entorno, no esplendor dourado dos ipês surgidos em julho. Aparição que apraz a alma, que abranda a velocidade dos carros que seguem no além das avenidas. 










































Texto, fotos e vídeos produzidos por Rogério Rocha.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Brasil na TV (Por Laurindo Leal)



O Brasil na TV

Por Laurindo Lalo Leal Filho (*) - Revista do Brasil - Reproduzido na Agência Carta Maior

O Brasil que se vê na TV está restrito ao Rio e à São Paulo, salvo raras exceções. Exibem-se nas novelas e nos telejornais, lindas paisagens e graves problemas urbanos dessas metrópoles para todo o país.

Fico a me perguntar o que interessa ao morador de Belém o congestionamento da Marginal do Tietê, exaustivamente mostrado pelas redes nacionais de TV? Não haveria fatos locais muito mais importantes para a vida dos telespectadores do Pará do que as mazelas da capital paulista?

No entanto, o conteúdo que vai ao ar não é determinado pelos interesses ou necessidades do telespectador e sim pela lógica comercial. Para o empresário de TV local é mais barato e mais lucrativo reproduzir o que a rede nacional de televisão transmite, inserindo alguns comerciais da região, do que contratar profissionais para produzir seus próprios programas.

Para as grandes redes trata-se de uma economia de escala: com um custo fixo de produção, o lucro cresce à medida em que os anúncios são veiculados num número crescente de cidades.

Isso ocorre porque como qualquer outra atividade comercial a lógica do capital é a da concentração, regra da qual a televisão, movida pela propaganda, não escapa. Só que a TV não é, ou não deveria ser, apenas um negócio como outro qualquer.

Por transmitir valores, idéias, concepções de mundo e de vida, ela é também um bem cultural e não uma simples mercadoria. Dai a necessidade de ser regulamentada e ter os seus serviços acompanhados de perto pela sociedade.

Como concessões públicas, as emissoras têm obrigação de prestar esses serviços de maneira satisfatória, atendendo às necessidades básicas de informação e entretenimento a que todos tem direito. Caso contrário, caberiam reclamações, processos e punições, como ocorre em quase todas as grandes democracias do mundo.

Aqui, além de não existirem órgãos reguladores capazes receber as demandas do público e dar a elas os devidos encaminhamentos, não temos uma legislação capaz de sustentar esse processo. Por aqui vale tudo.

E quem perde é a sociedade, empobrecida culturalmente por uma televisão que a trata com desprezo. Diretores de emissoras chegam a dizer, preconceituosamente, que “dão ao povo o que o povo quer”.

Um caso emblemático da falta que faz essa legislação é o da produção e veiculação de programas regionais. Se o mercado concentra a atividade televisiva no eixo Rio-São Paulo, cabe a lei desconcentrá-lo, como determina artigo 221 da Constituição, até hoje não regulamentado.

Sua tramitação é seguidamente bloqueada no Congresso por parlamentares que representam os interesses dos donos das emissoras de TV.

Em 1991 a então deputada Jandira Feghali apresentou um projeto de lei estabelecendo percentuais de exibição obrigatórios para produção regional de TV no Brasil. Doze anos depois, em 2003, após várias concessões feitas para atender aos interesses dos empresários, o texto foi aprovado na Câmara e seguiu para o Senado, onde dorme um sono esplendido até hoje.

São mais de vinte anos perdidos não apenas para o telespectador, impossibilitado de ver o que ocorre na sua cidade e região. Perdemos também a oportunidade de abrir novos mercados de trabalho para produtores, jornalistas, diretores, atores e tantos outros profissionais obrigados a deixar suas cidades em busca de oportunidades limitadas nos grandes centros.

Mas se os interesses empresariais das emissoras bloqueiam esse florescimento artístico e cultural, as novas tecnologias estão abrindo brechas nessas barreiras. O barateamento e a diminuição dos equipamentos de captação de imagens impulsionaram o vídeo popular e a internet vem sendo um canal excelente de divulgação desses trabalhos.

Combina-se a vontade e a capacidade de fazer televisão fora das emissoras tradicionais com a necessidade do público de acompanhar aquilo que acontece perto de sua casa ou de sua cidade.

O que não descarta a necessidade da existência de programação regional nas grandes emissoras, como forma de tornar o Brasil um pouco mais conhecido pelos próprios brasileiros.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).


Fonte: Mingau de Aço

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