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sábado, 1 de fevereiro de 2014

O contrato do século

Por Franthiesco Ballerini
Cena do filme "O grande ditador", de 1940, primeiro filme sonoro do ator/diretor
Há 100 anos, em dezembro de 1913, um jovem inglês, pobre – que passara a infância em orfanatos e ganhava trocados em apresentações de mímicas em Music Halls de Londres –, assinava seu primeiro contrato em Hollywood, época em que nem mesmo os estúdios ainda estavam totalmente formados. Descoberto pelo diretor e produtor Mack Sennett, Charles Chaplin se tornaria rapidamente uma das figuras mais importantes da história do cinema mundial, especialmente da indústria cinematográfica norte-americana.
O contrato assinado entre ele e a KeystoneStudios foi o estopim para um dos grandes feitos do jovem ator. Como poucos, Chaplin teve o privilégio de passar quase toda a vida sendo ator, roteirista, diretor e, quase sempre, produtor das obras que lançava. Isso dava a ele aquilo que é tão raro em Hollywood: controle criativo. Basta ler, por exemplo, as declarações de qualquer diretor brasileiro que se aventura por lá para perceber que nos estúdios de Hollywood a maioria dos diretores é mero profissional contratado, pois quem manda mesmo são os produtores e, depois, os atores. Já Chaplin conseguiu escapar desta armadilha que transforma grande parte das obras em produtos industriais sem toque autoral. Ao escrever a ideia inicial, comandar sua transformação para audiovisual (ou apenas visual, antes do cinema sonoro), dar vida ao personagem e controlar, ainda que em parte, o dinheiro envolvido no filme, Charles Chaplin poderia ter garantias de que suas obras chegariam ao público da maneira que ele tinha visionado.
Mas a grande contribuição do diretor aconteceu mesmo pouco depois de assinar o contrato com a Keystone. Chaplin criaria um tipo, o vagabundo de chapéu-coco Carlitos, que nada mais foi do que uma das primeiras franquias cinematográficas do mundo. Sem querer – pois sua maior preocupação na época era o humor e a arte –, o ator estava criando as bases que hoje sustentam fortemente Hollywood, vide a quantidade de franquias que dominam as salas de cinema todos os fins de semana.
Sua fórmula foi simples: se o público gostou das aventuras de Carlitos na primeira vez, por que não gostaria de vê-lo novamente, ao lado de outros personagens, em outra locação e em novas confusões? O público queria. Assim, Chaplin conseguia, a cada novo filme, dar mais densidade à personalidade de Carlitos, de modo que o público não só se divertia como também o considerava cada vez mais um personagem querido e íntimo, quase um membro da família. Esse “efeito colateral” positivo das franquias é o que garante hoje a longevidade das séries de TV, por exemplo, que são capazes de dar uma densidade ao personagem que só as franquias cinematográficas sofisticadas conseguem.
Douglas Fairbanks, Mary Pickford, Charlie Chaplin, D.W. Griffith, fundadores da produtora United Artists, em 1919
O controle criativo foi tão importante para Chaplin que ele cancelou o contrato com a Keystone, e com outras tantas produtoras, e ao lado de Douglas Fairbanks, Mary Pickford e do lendário D. W. Griffith fundou, em 1919, a United Artists. A intenção dele era fugir do sistema de estúdio, um sistema em que o produtor controla absolutamente todos os aspectos do filme – até mesmo o nome oficial dos atores, a cor de seus cabelos, quando devem falar em público etc. Com isso, a United Artists seria uma espécie de refúgio de roteiristas e diretores que queriam ter liberdade criativa em seus projetos. Mas como em Hollywood o dinheiro sempre fala mais alto, não demorou muito tempo para que o estúdio de Chaplin se juntasse à esquemática dos demais, exceto o próprio Chaplin.
Ao mesmo tempo em que Chaplin foi um grande contribuidor da arte cinematográfica, ele também causou grandes escândalos por onde passou. Durante anos, o famoso chefe do FBI, J. Edgar Hoover – que virou filme nas mãos de Clint Eastwood –, ficou no pé do ator por achar que ele estava disseminando o comunismo nos EUA, país para o qual ele nunca pediu nacionalidade. Depois, seu primeiro filme sonoro, O grande ditador, de 1940, causou a ira de alguns políticos dos EUA por fazer uma caricatura bem-humorada de Adolf Hitler. Mas o público respondeu bem ao filme, e a crítica aclamou-o como uma das grandes obras do ator/diretor. E embora o governo norte-americano nunca tenha tido uma prova sequer de que Chaplin era um “traidor da nação”, ele foi proibido de entrar no país, em 1952, após lançar o filme Luzes da ribalta, em Londres. No livro Tramp: The Life of Charles Chaplin, Joyce Milton afirma ainda que o escritor russo Vladmir Nabokov se inspirou na relação de Chaplin com a atriz Lita Grey para escrever seu romance mais famoso, Lolita. Isso porque Chaplin se casou com Lita quando ela tinha apenas 16 anos.
Casado quatro vezes e pai de 11 filhos, o intérprete de Carlitos era conhecido em Hollywood por sua maneira nada ostentosa de viver. Morava em um quarto de hotel humilde enquanto seus colegas viviam em mansões em Beverly Hills. Guardava os cheques que recebia dos filmes, por meses, dentro de um baú do hotel. Vencedor do Oscar honorário, em 1972, pela “incalculável contribuição em fazer o cinema ser a forma de arte do século 20” – estatueta esta que ele usava como peso de porta, pelo desdém que tinha com a academia –, Chaplin foi o responsável, ao lado de Buster Keaton, por popularizar e aperfeiçoar o que hoje se chama “comédia pastelão” (ou Slapstick, como é chamada nos EUA) cujo riso é extraído de trapalhadas físicas dos personagens – casca de banana, torta na cara, beliscões etc. Era a fórmula perfeita para o cinema mudo, uma vez que não necessitava de diálogos para sua compreensão e tampouco de roteiros muito sofisticados. No entanto, precisava de atores com grandes habilidades corporais – Buster Keaton ganhou esse nome no circo porque caía no chão como ninguém – e ótimas expressões faciais, característica marcante de Carlitos. O pastelão de Chaplin foi tão importante que fez escola no mundo, garantindo, por exemplo, aqui na América Latina, humorísticos televisivos no ar há mais de três décadas, como Chaves, e quatro das maiores bilheterias brasileiras até hoje, com os filmes dos Trapalhões.
Dono de olhos azuis claríssimos, que hipnotizavam quem o conhecia pessoalmente – já que eles nunca foram vistos nos filmes em branco e preto –, Chaplin se tornou ator porque sua mãe, antes de ter surtos psicóticos e perder a guarda dele e do irmão Syd, interpretara para ele o que estava acontecendo nas ruas durante as semanas em que ele, ainda criança, ficou confinado na cama por conta de uma doença séria. Seu filme predileto era O encouraçado Potemkin, de 1925, do russo Sergei Eisenstein, e compôs mais de 500 músicas ao longo da vida, como Smile, eternizada nas vozes de Nat King Cole e posteriormente de Michael Jackson.
Assim como Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock, era preciso como um matemático nas cenas em que dirigia. Refazia-as dezenas de vezes até que ficassem do jeito que queria, enlouquecendo os assistentes de direção e a equipe de seus filmes. Curiosamente, porém, como ator, não trabalhava com um roteiro estruturado. Ao contrário, tinha a ideia na cabeça e improvisava na hora. O último filme que dirigiu foi A condessa de Hong Kong, de 1967, protagonizado por Marlon Brando. Embora Brando tenha dito que Chaplin era o maior talento já visto no cinema, os dois tiveram uma relação dificílima no filme, a ponto de Brando chamá-lo de “provavelmente o homem mais sádico que eu já conheci” e de Chaplin dizer que trabalhar com Brando era “impossível”.
Embora nunca tenha recebido um Oscar como ator, diretor ou roteirista, grande parte do sucesso da indústria cinematográfica norte-americana se deve a este garoto que passou fome em orfanatos e que criou um tipo tão fundamental para o cinema que nunca precisou de voz para chamar a atenção do mundo inteiro.
Franthiesco Ballerini
é jornalista e coordenador geral da Academia Internacional de Cinema
Fonte: Revista Cult online

domingo, 30 de dezembro de 2012

Johnny Depp: um ator complexo e fascinante



Excelente ator, bad boy, descolado, rebelde, outsider de Holywood, ídolo teen, camaleônico, galã às avessas, ovelha negra. Eis alguns dos muitos adjetivos usados para definir Johnny Depp. Em 20 anos de carreira John Christopher Depp II, ou simplesmente Johnny Depp, se tornou um dos melhores atores de sua geração. Em seu currículo uma gama de ecléticos personagens: desajustados, outsiders sensíveis e excêntricos renegados. Desde sua marcante atuação em Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands - 1990) até o enorme sucesso comercial como o cínico capitão Jack Sparrow em Piratas do Caribe: a maldição do Pérola Negra (2003), Depp escolheu personagens que deixaram tanto críticos quanto fãs abismados e maravilhados. Ao longo da carreira, Johnny Depp sempre priorizou a integridade artística em detrimento do mero atrativo comercial. Ficou marcado por ter recusado determinados papéis em filmes que posteriormente se tornaram estrondosos sucessos de bilheteria: Velocidade Máxima (1994), Titanic (1997), Entrevista com o vampiro (1994) e Proposta Indecente (1993), só para citar alguns. Em vez dos grandes blockbusters, Depp preferiu atuar em produções independentes, com diretores nem tão consagrados, filmando obras como Um sonho americano (1993), Dead Man (1995) e Benny & Joon: corações em conflito (1993).


O fascínio pelos personagens desajustados explica-se em parte pelo fato de ter se tornado um ídolo adolescente quando estrelou com destaque especial a série de tv 21 Jump Street (1987-1991) – no Brasil exibida com o nome de Anjos da Lei. Incentivado pelo diretor Tim Burton, que para muitos é seu verdadeiro alter ego, Depp decidiu abandonar o programa. De presente recebeu de Burton o papel principal em seu primeiro grande êxito cinematográfico, Edward Mãos de Tesoura. Seguindo sua intuição para escolha de papeis com os quais se identificasse fez depois: Gilbert Grape: aprendiz de sonhador (1993), onde atuou ao lado de um Leonardo de Caprio ainda jovem e promissor, Ed Wood (1994) e Medo e delírio (1998).


Mesmo optando por trilhar o caminho peculiar dos papeis não convencionais, Depp há muito está sob a mira dos holofotes. Enquanto integrava o elenco de Anjos da Lei (21 Jump Street), falava abertamente sobre sua adolescência selvagem, quando tocou em bandas, experimentou drogas e abandonou a escola, criando assim um mito de si próprio que levou a imprensa especializada considerá-lo, à época, uma espécie de novo James Dean. Mais tarde, após casar-se e divorciar-se ainda jovem, e de namorar as atrizes Sherilyn Fenn e Jennifer Grey, Depp envolveu-se com a atriz Winona Ryder enquanto se tornava uma celebridade crescente.



Sob pressão constante da mídia e uma fama global, Depp passou a abusar da bebida, culminando essa fase com um escândalo num hotel de Nova York, quando quebrou tudo numa suíte que ocupava. Como se não bastasse, sua amizade com encrenqueiros famosos como Keith Richards, Hunter Thompsom, Shane MacGowan, Iggy Pop, Sean Penn e o astro Marlon Brando, ajudou a consolidar sua reputação de rebelde de Holywood.


Com o tempo e o amadurecimento tudo isso mudou, e já em 2006 Jhonny se encontrava pessoalmente realizado e no auge da carreira. Na onda do estrelato com Piratas do Caribe: o baú da morte (sequência do não menos aclamado Piratas do Caribe: a maldição do Pérola Negra), seu primeiro sucesso verdadeiramente estrondoso, Depp tem Holywood a seus pés. Numa síntese fenomenal, ele conseguira reunir em sua pessoa tanto as virtudes de um ator sério quanto a de um ídolo do cinema comercial – tornou-se o 6º ator mais bem pago de Holywood em 2012. Tudo isso sem deixar de imprimir sua marca pessoal e continuar dando dignidade aos personagens que interpreta.


Muitos atribuem a boa fase e o sucesso do momento à felicidade que lhe trouxe a vida familiar. Num relacionamento estável desde 1998 com a atriz, cantora e modelo francesa Vanessa Paradis, Depp divide seu tempo entre a casa em Paris, Los Angeles e uma ilha nas Bahamas. As outras razões para seu novo momento são seus dois filhos: Lily-Rose Melody Depp e Jack John Christopher III. Recentemente revelou: “Antes de meus filhos nascerem, eu não sabia que uma família é a coisa mais maravilhosa e motivadora do mundo. Vanessa Lily-Rose e Jack me trouxeram uma felicidade enorme, eles são a chave do sucesso”.

Para assistir e gostar de Johnny Depp (filmes que recomendo):

- Edward Mãos-de-tesoura (Edward Scissorhands - 1990)
- Gilbert Grape: aprendiz de sonhador (What's Eating Gilbert Grape - 1993)
- Ed Wood (1994)
- Tempo Esgotado (Nick of time - 1995)
- Don Juan DeMarco (1995)
- A lenda do cavaleiro sem cabeça (Sleepy Hollow - 1999)
- Do Inferno: a verdadeira história de Jack, o Estripador (From Hell - 2001)
- O Libertino (The Libertine - 2004)
- A janela secreta (Secret Window - 2004)
- Em busca da Terra do Nunca (Finding Neverland - 2004)
- A fantástica fábrica de chocolate (Charlie and the chocolate factory - 2005)
- Inimigos Públicos (Public Enemies - 2009)
- Alice no país da maravilhas (Alice in Wonderland - 2010)
- Sombras da noite (Dark Shadows - 2012)

domingo, 8 de julho de 2012

Calçada da memória: o rosto da decência (Gregory Peck)


Na primavera de 1939, Gregory Peck (1916-2003) cabulou a cerimônia de formatura em Inglês, em Berkeley, e foi de trem para Nova York com 160 dólares e uma carta de apresentação para tentar a carreira de ator. Teve êxito mais cedo do que esperava. Estreou na Broadway em 1942, na peçaThe Morning Star, e no ano seguinte em Hollywood, em Quando a Neve Tornar a Cair, de Jacques Tourneur.
Gregory Peck, o homem correto para quem era mais desafiador tornar um bom sujeito interessante nas telas do que um vilão
O papel de um padre em seu segundo filme, As Chaves do Reino (John M. Stahl, 1944), rendeu-lhe a primeira de suas cinco indicações ao Oscar, que acabaria vindo em 1962, por O Sol É para Todos, de Robert Mulligan.
De figura imponente (1,91 m) e austera, com uma voz grave que quase nunca subia de tom, Peck encarnou em geral o homem reto, de bons princípios, defensor da justiça e da verdade. Mas seu estilo econômico de atuação lhe permitiu representar também homens atormentados pela luxúria (Duelo ao Sol, de King Vidor), pela culpa (Quando Fala o Coração, de Hitchcock) ou pela obsessão (Moby Dick, de John Huston). Encarnou até o monstro nazista Josef Mengele, em Meninos do Brasil, de Franklin Schaffner.
Por conta de sua imagem séria, fez poucas comédias. Uma exceção notável foi A Princesa e o Plebeu(William Wyler, 1953), a deliciosa estreia de Audrey Hepburn.
Católico e progressista, Peck participou de passeatas contra a guerra e pelos direitos civis, e achava que a Igreja devia se abrir em questões como o aborto e a contracepção.
“Dizem que encarnar vilões é mais interessante, mas representar os bons sujeitos é desafiador justamente porque é mais difícil torná-los interessantes”, costumava dizer.
DVDs
Quando Fala o Coração (1945)
O novo diretor de uma clínica para doentes mentais (Peck) começa a ter um comportamento estranho, aos olhos de uma psiquiatra (Ingrid Bergman). Ele pode ser impostor,  assassino ou vítima de amnésia. Curiosa incursão de Hitchcock pela psicanálise, com sequência de sonhos desenhada por Salvador Dalí.

Círculo do Medo (1962)
Depois de passar oito anos na cadeia, Max Cady (Robert Mitchum) passa a atormentar a família do advogado Sam Bowden (Peck), que testemunhou contra ele no tribunal. O clima de crescente terror do filme de J. Lee Thompson é exacerbado no remake de Scorsese (Cabo do Medo, 1991), em que Peck vive o advogado de Cady.

O Sol É para Todos (1962)
Na época da Depressão, no Sul dos EUA, o advogado Atticus Finch (Peck) defende um negro acusado injustamente de estupro. Célebre libelo contra o racismo. Em eleição realizada pelo American Film Institute, Atticus foi escolhido “o maior herói do cinema em todos os tempos”, deixando para trás Indiana Jones e James Bond.

Fonte: www.cartacapital.com.br/cultura/0-rosto-da-decencia

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