quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Jesus não fundou uma religião (por Jorge Leão)



Jorge Leão*



Ainda hoje, é comum confundir a mensagem de Jesus com alguma doutrina religiosa. Por isso, os caminhos se estreitam, e perde-se o sentido originário de sua palavra.
As palavras de boa nova se transformam em credo, na tentativa de manter o controle institucional de sua mensagem. Uma infeliz realidade que se iniciou com Constantino Magno, no século IV, ao fazer do cristianismo a religião oficial do império romano.

Atualmente, uns se arrogam no direito de garantir a cadeira onde Pedro teria sido proclamado “papa”. Outros reivindicam da mensagem a sua infalibilidade, enquanto alguns outros se proclamam doutores em teologia, a fim de conferir poderes divinos a seus arrogantes processos inquisitórios, e poder julgar sobre o que é ou não pecado.
Trata-se de uma estratégia de manter a grande massa atônita, ignorante pelo medo de alguma condenação eterna depois da morte. Então se fabrica a imagem de um Deus austero, que julga e condena pecadores a pagarem na eternidade suas culpas imperdoáveis. Isso é o que se pode chamar de reducionismo teológico.
Por isso, já antevendo possíveis desvios próprios de quem é manipulado pelo ego, Jesus proclama que “aquele que quiser ser o maior, que seja o servo de todos”. Esta é a questão central, pois num mundo em que o poder religioso confunde-se com status político e poderio econômico, há de se pensar outra via de aproximar a fé da vida, uma vez que o discurso eclesiástico institucional está trancafiado em uma arrogante pretensão excludente, machista e ainda estritamente doutrinária. Nada mais distante da mensagem do carpinteiro de Nazaré.
Assim, penso que a única “religião” que Jesus instituiu de fato foi o amor entre os homens e as mulheres de boa vontade, concretamente proclamada por seu novo mandamento: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. O que se coloca para além disso não passa de proselitismo, falseamento de sua mensagem e disputa de poder.
Num mundo marcado pela violência e banalização da vida, é chegado o momento de superar visões estreitas acerca de partidarismos eclesiásticos e permitir que a mensagem do evangelho de Jesus seja vivida em sua integridade e pureza. A época presente deverá ser da “religação” ao princípio supremo do amor e da paz, e não a uma denominação religiosa que se venha a proclamar representante maior de Deus entre os homens. Este é um triste sinal de que há mais distanciamento da mensagem originária do que nossos altares suntuosos possam esconder.
Há de se ter coragem de viver o evangelho em sua essência, deixando as aparências doutrinárias assumirem o papel que lhes convém.

*Professor de Filosofia, membro do MFC São Luiz, MA
Texto publicado originalmente no Correio MFC n.º 275

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