quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Coveiro



O morto não veio!
Espera, ó coveiro!


A fraca luz
dos candeeiros 
ilumina a madrugada.
Sentado à porta da capela,
fuma seu cigarro
o coveiro.


A noite no cemitério 
é profunda,
silenciosa.
Nela, medos primitivos
despertam vozes
e movimentos indecifráveis.


O coveiro, lá sentado,
espera sozinho
o dia romper.
É parte da noite.
Reside em seus segredos.


Espera a chegada
de novo habitante.

Fora, em seus sonhos,
despertado
por homens
que avisavam
da chegada
de um cortejo derradeiro.


À noite, frio cortante
e o piar de corujas.


Sua pá remove, 
repetidamente,
camadas de terra
negra.
Negro solo sombrio.


Aberta a cova, 
aguarda
o cadáver
que há de chegar.


Horas incólumes
passam, 
mas nada.


O morto não veio!
Espera, ó coveiro!


Chega então
um triste homem,
aproximando-se
vagaroso
com dois outros
e anuncia:


- Tua espera acabou!
- Cavastes aqui
tua última morada!
- És tu quem há de partir!


A morte então veio.
Descansa agora, ó coveiro.


Rogério Rocha

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